domingo, 5 de dezembro de 2010

"Á falta de melhor!"

Quando se chega a uma casa desconhecida, onde nela habitam pessoas desconhecidas, onde até mesmo a casa de banho não é a do costume, há sempre uma coisa a fazer, a coisa mais acertada de todo o mundo e arredores, falar contigo.
Apenas a vontade de saber se ouves, ou mesmo se escutas, porque ouvir é uma coisa, agora escutar como tu escutavas, podem vir as pessoas que vierem, porque nunca há-de ser a mesma coisa. Adorava falar e ouvir. Adorava escutar todas as palavras que dizias, muitas delas já sem nexo dado o facto de a bebedeira ser tão forte, tão intensa.
Intensos eram os encontros que nós tínhamos, intensos como o sol de Julho, a malhar na areia da nossa praia; e o mar, aquele mar que estava sempre lá. O mar que te quis levar de mim, mas como é de costume, o que é meu de mim ninguém mo tira, era assim que me dizias sempre que queriam falar comigo em particular na tua frente.
Era sempre na tua frente e na tua presença que as coisas aconteciam, as bebedeiras, as ressacas, as limpezas das sujidades do dia anterior, as novas bebedeiras e enfim.
“Adoro pensar que pensas em mim e onde estiveres eu também estou”, foi assim que disses-te quando tiveste de sair da ilha. A ilha! Dizias tu, sem saber que tivera sido nessa ilha que nascera uma amizade de anos, horas contadas para te poder contar todas as novidades e ainda mais horas passadas a contar-tas.
Contar os dias para poder estar contigo novamente tornou-se um suplício, e ainda para mais saber que só poderemos estar junto quando passar desta a melhor…
“Maria!”, assim me chamavas, e eu só gostava de ser chamada assim por ti, meu “jó!”, posso-me gabar de ser a única a chamar-te assim também, não foi? Eram estas coisas estúpidas que me faziam ser eu, …
Foram momentos como os: “vamos ao Pico!”, mas tinha de ser na hora, ou até “vamos aos Cedros?”, e eu dizia: “agora?”… mas íamos todos parvos pela estrada fora, em curva contra curva, em cantorias e desatinos.
Desatinavas tantas vezes quando eu estava mal, e vinhas de onde quer que fosse só para estar ao meu lado, mesmo que não dissesses nada nem ouvisses, só para estar ali, a segurar uma mão e com a outra fazer festinhas na cabeça.
Ui, e tantas que apanhei na cabeça por fazer tolices e não tas contar… adorava correr pelo campo e dizer:” fiz uma tolice!” e lá ias tu atrás de mim a gritar:”eu, quanto de apanhar nem quero ver!”, era tão bom… ate parece estúpido lá no fundo.
Fundo, foi ao fundo do mar que te fui resgatar. Quando o mar te quis tirar de mim, quando nem o nadador salvador te quis ir buscar, quando todos os que chamavas de “amigos” te deixaram ir , quando todos os que estavam lá presentes tiveram medo de ir á agua te procurar. Mas eu não, eu pensei :”ele fazia o mesmo por mim!” e lá fui eu, sem medo nem vergonhas, sem angustias nem preocupações; foi então que te tirei da agua, te arrastei pelo cais e a chorar, virei-te e comecei as compressões… “uma, duas, três..”.
Três, a conta que deus fez; é assim que dizem e era assim que nos éramos, três tristes tigres! Três desgraçados da vida airada, três sempre juntos, sempre três a fazer tolices, os três... que se separaram.
Separar é uma palavra tão forte o quanto morrer e medo… medo de morrer… medo de separar, medo, morrer e separar… lá está o número três outra vez, o número mágico, os três mágicos!
Mágicos eram os nossos encontros às tantas da manhã, o que já era bastante cedo, tendo em conta as horas… ai as horas que passamos juntas, nós as duas, sem ele saber, a conversar e a conspirar festas de anos, ui a festa dele foi tão bem conspirada que ele nem se lembrou de ir até tua casa, lembras-te? Foi tão brutal ver todos á espera dele e ele? Não sabíamos que ele estava a dormir… nem sabíamos dele, o que nos valeu foi teres o número da mãe dele; até parece que me lembro da conversa:”tou? Senhora mãe do J.?... Olá é a L., o J. está por aí?... o quê? Esta a dormir?... pode acordá-lo o dizer-lhe que estou á espera dele?... obrigada e com licença.”
Licença era uma coisa que nunca pedíamos, nem para entrar nas salas, mesmo vindos atrasados como de costume… e os professores nem diziam nada, a não ser:  “bom dia, a festa durou ate agora?” e tu dizias “e agora acaba de começar outra! A festa da matemática, conhece?”…
Conhecemo-nos de uma forma tão esquisita… tão surreal, tão histórica, e estranha… mas fomos logo para a farra, e que farra! Festa, bebedeira,  enfim; uma pouca-vergonha!
Vergonha foi coisa que nunca tivemos uns dos outros, sempre contámos tudo e rimo-nos sempre de tudo o que contávamos, para que não parecesse tão mal o que um tivesse dito. E era tão bom quando nos riamos…
Riso, foi a última coisa que ouvi de cada um de vocês, um riso inconfundível… um riso único, um riso ímpar, um riso lindo…
Agora que não ouço esses riso, agora onde tudo me parece estranho, agora onde a vontade de estar com vocês é tanta, nem os risos de todo o mundo em uníssono me faziam rir da mesma forma que vocês o faziam…
Fazer tolices já não tem a mesma piada, a piada deixou de ter graça, e a graça deixou da ser divertida… só porque deixei de ter vocês ao meu lado… meus tudo por tudo, meus melhores amigos, meus únicos e inconfundíveis, meus tudo!
N.unes

2 comentários:

  1. ercrevi este texto já a algum tempo, mas só agor o publiquei... espero que o tentem perceber...

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  2. Lindo lindo lindo *.*
    Eu percebo, eu sei :')

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